sejam todos bem-vindos

espaço dedicado à divulgacao de informação, aberto a todos os tipos de expressões, comentários e compartilhamento.

16 de janeiro de 2010

Pesquisadores da Unicamp no Haiti

Compilado por Bruno Padoveze através de informação compartilhada pelo grande amigo João Rodrigo Contim


Um grupo de jovens estudantes de ciências sociais da Unicamp esta no Haiti neste exato momento.
Não faz nem um mês que chegaram la, com o objetivo de realizar um treinamento em pesquisa de campo antropológica.

E obviamente, estão imersos nos acontecimentos pos-terremoto, porem observando e interagindo com a situação, com o povo haitiano e ate com o exercito brasileiro de uma maneira diferente da que a mídia internacional e brasileira, vem retratando.

Vale muito à pena informar-se da perspectiva destes jovens estudantes e pesquisadores brasileiros que neste momento, estão realmente vivendo tudo isso que vemos e ouvimos na televisão e vemos e lemos nos jornais.

É sempre muito importante abrirmos nossos olhos e mentes para todos os diferentes tipos, perspectivas e fontes de informação. Para assim, munidos de consciência, entrarmos em contato com nossa intuição, com nosso interior, e irmos aos poucos, nos re-descobrindo e redescobrindo o mundo dentro de nos e ao nosso redor.

----
O termo MINUSTAH aparece bastante nos relatos.

MINUSTAH – sigla para “Missão das Nações Unidas para a estabilização no Haiti”, é uma missão de paz criada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU), em 30 de abril de 2004 para restaurar a ordem no Haiti.
A missão está no país desde junho de 2004, e a ONU renovou seu mandato por 1 ano em outubro de 2009.

Existem 1.300 soldados brasileiros no Haiti neste momento, servindo a MINUSTAH.

O Haiti foi o segundo país da América, não por acaso, a conquistar a Independência (15 anos antes do Brasil) e o primeiro a conquistar o fim da escravidão (100 anos antes do Brasil).

É um país pequeno geograficamente, mas solidário, que enviou apoio à Independência Cubana, às transformações por soberania no Congo e na Grécia (em 1830).
---

Gostaria de postar aqui, na integra o primeiro relato desse grupo de jovens logo apos o terremoto, escrito por Otavio Calegari Jorge no dia 13 de janeiro.

E apos o termino deste relato, deixo abaixo os links para os outros posts, desde novembro e inicio de dezembro enquanto eles ainda estavam no Brasil, preparando-se para partir, e nos recentes dias, apos o terremoto.

Vale muito a pena ler, os textos nao sao muitos, nao sao longos e sao impressoes pessoais de alguns deles, que estao literalmente navegando neste mar de acontecimentos.


Haiti: estamos abandonados
13 13UTC Janeiro 13UTC 2010

“A noite de ontem foi a coisa mais extraordinária de minha vida. Deitado do lado de fora da casa onde estamos hospedados, ao som das cantorias religiosas que tomaram lugar nas ruas ao redor e banhado por um estrelado e maravilhoso céu caribenho, imagens iam e vinham. No entanto, não escrevo este pequeno texto para alimentar a avidez sádica de um mundo já farto de imagens de sofrimento”.

“O que presenciamos ontem no Haiti foi muito mais do que um forte terremoto. Foi a destruição do centro de um país sempre renegado pelo mundo. Foi o resultado de intervenções, massacres e ocupações que sempre tentaram calar a primeira república negra do mundo. Os haitianos pagam diariamente por esta ousadia”.

“O que o Brasil e a ONU fizeram em seis anos de ocupação no Haiti? As casas feitas de areia, a falta de hospitais, a falta de escolas, o lixo. Alguns desses problemas foram resolvidos com a presença de milhares de militares de todo mundo”?

“A ONU gasta meio bilhão de dólares por ano para fazer do Haiti um teste de guerra. Ontem pela manhã estivemos no BRABATT, o principal Batalhão Brasileiro da Minustah. Quando questionado sobre o interesse militar brasileiro na ocupação haitiana, Coronel Bernardes não titubeou: o Haiti, sem dúvida, serve de laboratório (exatamente, laboratório) para os militares brasileiros conterem as rebeliões nas favelas cariocas. Infelizmente isto é o melhor que podemos fazer a este país”.

“Hoje, dia 13 de janeiro, o povo haitiano está se perguntando mais do que nunca: onde está a Minustah quando precisamos dela”?

“Posso responder a esta pergunta: a Minustah está removendo os escombros dos hotéis de luxo onde se hospedavam ricos hóspedes estrangeiros”.

“Longe de mim ser contra qualquer medida nesse sentido, mesmo porque, por sermos estrangeiros e brancos, também poderíamos necessitar de qualquer apoio que pudesse vir da Minustah”.

“A realidade, no entanto, já nos mostra o desfecho dessa tragédia – o povo haitiano será o último a ser atendido, e se possível. O que vimos pela cidade hoje e o que ouvimos dos haitianos é: estamos abandonados”.

“A polícia haitiana, frágil e pequena, já está cumprindo muito bem seu papel – resguardar supermercados destruídos de uma população pobre e faminta. Como de praxe, colocando a propriedade na frente da humanidade”.

“Me incomoda a ânsia por tragédias da mídia brasileira e internacional. Acho louvável a postura de nossa fotógrafa de não sair às ruas de Porto Príncipe para fotografar coisas destruídas e pessoas mortas. Acredito que nenhum de nós gostaria de compartilhar, um pouco que seja, o que passamos ontem”.

“Infelizmente precisamos de mais uma calamidade para notarmos a existência do Haiti. Para nós, que estamos aqui, a ligação com esse povo e esse país será agora ainda mais difícil de ser quebrada”.

“Espero que todos os que estão acompanhando o desenrolar desta tragédia também se atentem, antes tarde do que nunca, para este pequeno povo nesta pequena metade de ilha que deu a luz a uma criatividade, uma vontade de viver e uma luta tão invejáveis”.

Otávio Calegari Jorge

----

Leiam aqui os outros relatos do blog desse grupo de jovens estudantes e pesquisadores de ciências sociais da Unicamp que estão neste momento, em Port Au Prince no Haiti.

Novembro 2009

Dezembro 2009

Janeiro 2010 (pos-terremoto, ordem cronológica lendo-se debaixo pra cima)



Um abraço,
Estejam bem.

Um comentário:

  1. Um notícia que complementa esse post de certa maneira.

    http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100318/not_imp525799,0.php

    Demétrio Magnoli - O Estadao de S.Paulo

    ResponderExcluir